domingo, 15 de junho de 2008

Resenha sobre o livro: É isto um homem? (Primo Levi)


Primo Levi: um relato de alteridade
Pode ser que diante dos acontecimentos tão monstruosos, o comportamento mais lúcido e apropriado não seja a análise (especifiquemos) científica, que vise à formulação de princípios gerais ou à descoberta de verdades profundas, mas a simples notificação do ocorrido. Já que compreender uma ofensa tão excessiva e desmedida é impossível, narrá-la é preciso. Perpetuar-lhe, apenas, a memória em um relato que se limite rigorosamente ao quia.
(BARENGHI, 2005: p. 180)

Qual o valor que uma linguagem escrita pode adquirir à reconstrução histórica de um momento tão difícil de ser explicitado? Essa é uma pergunta coerente a se fazer em relação ao que Primo Levi nos fornece em sua obra É isto um homem?. O Holocausto é um dos poucos fatos históricos, cuja história pode ser reconstituída mediante a presença de “fontes históricas” singulares: homens e mulheres ainda vivos. Isso significa que o historiador, ao analisá-las, deva seguir um parâmetro de estudo de certo modo mais rígido, no sentido de como deva interpretá-las, buscando discernir até onde vai a veracidade dos fatos relatados. Sem dúvida, esta parece ser uma tarefa não tão simples de ser realizada, mas constitui algo fundamental para se compreender este momento da história de modo imparcial. Entretanto, vale refletir-se o quê significa ser imparcial diante disso e quais são os limites desta imparcialidade, na medida em que o historiador estará lidando com situações em que dor, sofrimento (dimensões, em certa medida, individuais), fizeram parte de uma realidade visivelmente concreta. Diante de situações singulares quanto as que Levi vivenciou, as formas de se expressar a realidade se misturam, incondicionalmente, às sensações e sentimentos oriundos das vias de interpretação pessoal que se abrem. Esse tipo linguagem adquire, nesse sentido, um valor interpretativo pessoal que deve ser enxergado mediante as razões que o produziram, enquanto produto de condições supressivas e degradantes. Condições que, no caso de Levi, foram responsáveis pela supressão de sua própria qualidade humana, originando um relato de alteridade; isto é, não é “o” Primo Levi que é descrito no livro, mas um outro muito distante, que perdeu a sua verdadeira identidade pessoal, e quer, por isso, encontrá-la em meio a um ambiente desolador e chocante aos olhos de leitores sensíveis. Parece que o artifício mais plausível para Levi é reconhecer o fato de que havia perdido sua humanidade, tornando-se necessário relatar isso da maneira mais realista possível.

O que está em jogo (...) é a definição de uma identidade. No entanto, em vez da descoberta ou da conquista de uma identidade individual, agora se fala de uma identidade negada (...); ou, mais precisamente, da imposição feroz de uma não-identidade, que prenuncia o extermínio físico.
(BARENGHI, 2005: p. 177)

A autobiografia de Primo Levi contida em É isto um homem? traduz um momento de busca por identidade que lhe fora negada. Os quadros desumanizantes aos quais Levi fora submetido foram responsáveis por retirar-lhe a sua capacidade de reconhecer a si próprio como um ser humano. A sua autobiografia retrata, desse modo, não uma identidade individual, marcada pela exuberância dos seus mais sublimes atributos, mas sim o momento em que essas qualidades se tornaram ausentes, de forma impositiva, proclamando uma ocasião de degeneração físico-psicológica. As primorosas conclusões de Barenghi, a respeito, admitem que as mais estranhas e espantosas experiências vivenciadas por Levi nos campos de concentração se interpõem entre ele (narrador) e o leitor sob uma forma totalmente impiedosa e direta; quase como se essas experiências, que retratam a luta pela sobrevivência e a perda de uma identidade, nunca houvessem feito parte do “cotidiano” da comunidade humana – fosse estranho, alheio a uma “normalidade”.
Diante disso, vale perguntarmo-nos a respeito do valor que a palavra tem para o estudo realizado pelo historiador, e de que modo ela pode contribuir na reconstrução do Holocausto, enquanto momento histórico, no sentido de que será que ela é auto-suficiente? Ou melhor, a palavra consegue traduzir veridicamente e integralmente uma realidade vivenciada? A resposta é, evidentemente, não. Os relatos de Primo Levi, sem sombra de dúvida, correspondem a um referencial importante para os historiadores do período. Eles traduzem, na maioria das vezes, realidades convincentemente vivenciadas, assim como os seus conseqüentes reflexos na vida de Primo Levi. A disposição com que são introduzidos na narrativa garante uma expressividade significativa; nos fornecem dados importantes sobre diversos momentos em que Levi se vê como um verdadeiro “ser frágil”. A característica enfática da narrativa pode, então, ser constituída mediante o uso de detalhes, aspectos sutis, mas que traduzem com clareza as cenas descritas. Vale se pensar qual a relação existente entre a experiência da barbárie e a linguagem construída para representá-la, visto que aquele que a vivencia encontra-se em uma situação difícil de explicá-la. Diante de um quadro de horror experimentado, um indivíduo naturalmente apresenta alguma dificuldade de expressar com clareza, ou mesmo com poucos detalhes, aquilo que tanto lhe afetou, às vezes mais psicologicamente do que fisicamente. Isso se relaciona a situações em que estão presentes quadros de ações desumanizantes. No caso de Primo Levi, isso se torna quase ausente. Percebe-se nos seus relatos uma necessidade pujante de falar, de contar, passando o máximo possível de clareza, o que vivenciou. Associado a isso, vemos uma narrativa triste, em que se percebe a característica “carregada” da narrativa de Levi, demonstrando o seu total desprezo pela condição a qual havia sido submetido, mediante a presença de elementos retóricos que fornecem uma percepção deprimente ao leitor. Há uma ânsia significativa de querer expressar a realidade sem distorcê-la, apesar de as palavras às vezes não constituírem o meio mais eficiente.
De acordo com Valeria de Marco, no século XX duas literaturas de testemunho foram criadas, uma voltada aos acontecimentos europeus da época do nazismo, e outra centrada em situações de autoritarismo estatal mais voltada ao contexto da América. Primo Levi é o principal expoente da chamada literatura de testemunho da shoah (“Holocausto”), estando intrinsecamente ligado a uma tendência, dentro desse tipo de literatura de testemunho, onde a incapacidade de expressar o que foi vivido nos campos de concentração se torna inerente à “aniquilação do homem”; ao contrário de outra tendência que atribui à criação de poemas após esse tipo de vivência um ato bárbaro, pois diante da barbaridade torna-se moralmente inviável a construção de tais narrativas. Valeria de Marco interpreta isso como a evidência de uma tensão entre catástrofe e representação. A catástrofe, entendida como uma situação de aniquilamento, destruição, extinção de qualidades humanas, liga-se diretamente a uma impossibilidade de reconstrução, de representação de qualidades humanas, de uma civilização. Essa tensão entre catástrofe e representação contribui para a inexistência de racionalismo no trato da construção narrativa; isto é, os relatos podem existir, mas não da forma inteiramente condizente com a realidade vivenciada. Como diz suas palavras:

O aniquilamento do homem ecoou no aniquilamento da utopia humanista, corroendo o poder explicativo da razão e a crença no conhecimento como força de civilização.
(MARCO, 2004: p. 53)

Muitos historiadores compreendem o “fazer” da história como verídico a partir da utilização desse tipo de fonte histórica. Diante disso, vale se perguntar a respeito de que modo o uso desses relatos podem contribuir para uma história mais “verdadeira”; pois, em termos lógicos, contrário a isso, haverá uma história “não tão verdadeira”, e, de certo modo, “falsa”. Esta é constantemente identificada como a chamada história vista de cima, ou história dos vencedores. Creio que refletir sobre essa questão é algo importante, na medida em que os relatos de Primo Levi são constantemente identificados como uma base de pesquisa histórica realista, e por isso suficientemente “verdadeira”. Acredito também que o fato de se constituir uma história dos vencidos, identificando-a com um tipo de narrativa ideal para os historiadores (principalmente em se tratando de contextos temporalmente tão próximos da atualidade), apenas contribui para o mesmo erro que era atribuído àqueles que se utilizavam da história dos vencedores: o uso quase restrito de apenas um dos lados da realidade histórica. Imagino que a narrativa ideal para um historiador, enquanto se privilegia princípios de mínima imparcialidade e uma análise neutra (no sentido misto da palavra), deva ser concebida mediante a confrontação de realidades históricas distintas, fluindo, a partir disso, hipóteses capazes de serem sustentadas facilmente. Ou seja, imagino que uma história dos vencidos não deva ser o objeto almejado pelos historiadores, com o uso de fontes históricas como os relatos de Primo Levi, mas sim um tipo de história que comporte tanto os relatos de Primo Levi, como os de nazistas extremados. E assim tirar-se conclusões.
Esse talvez seja um método mais “ortodoxo”, e por isso, “mais científico”, mas será que é condizente submetê-lo a um tipo de fonte histórica como o livro de Levi? Ou simplesmente a outros relatos com uma forte carga de realismo? Imagino que é condizente em certa medida. O que já foi dito acima refere-se a uma perspectiva de tratamento por parte do historiador que, acho, seria coerente em um estudo aprofundado sobre um tema tão complexo quanto o Holocausto, e a literatura produzida a respeito. Por outro lado, creio também que em se tratando de um estudo focado em uma produção autobiográfica como a de Levi (que é o propósito dessa resenha), uma perspectiva puramente “científica” não seria totalmente condizente com tal obra. Uma vez que esse não é o propósito do livro, e isso não significa, de modo algum, ter de desprezá-lo. Como citamos no início desta resenha (uma passagem de Barenghi), o modo como Levi traz-nos os acontecimentos que ele vivenciou, condiz com uma narrativa que não possui, propriamente, moldes de uma construção mais formal. Primo Levi faz isso, não por uma questão deliberada, mais porque é inerente à construção da temática que quer nos apresentar: a composição realista de um momento quase inacreditável àqueles que não o presenciaram. Por isso, o modo de construção dos relatos de Levi está, a nosso ver, muito coerente com a natureza temática apresentada. Como diz Barenghi (na passagem introdutória), a “simples notificação do ocorrido” já é suficiente para a proposta de Levi, e por isso seria incoerente, ou pelo menos não tão realista, o uso de um tratamento mais formal ao modo de apresentar e dispor os dados da narrativa, por Levi. É isto um homem? constitui uma história real e realista, por isso, se utiliza não de uma linguagem formal (“acadêmica”), mas direta, objetiva; propõe apresentar de forma “crua” aos leitores a detestável realidade pela qual Levi dispõe de um anseio em tornar o leitor um indivíduo consciente dos fatos, comprometendo-os à hostilidade ao nazismo. O autor tem a necessidade de fixar a consciência do que ocorreu aos leitores, inserindo-os como testemunhas de um testemunho.

Considerações Finais

É isto um homem? constitui, além de um referencial importantíssimo aos estudos históricos, uma obra-prima da literatura do século XX. Apesar das limitações impostas pela comunicação escrita e pelas conseqüências psicológicas oriundas do que foi vivenciado nos campos de concentração, Primo Levi consegue traduzir de modo sutil sentimentos e uma realidade quase inacreditável aos nossos olhos. Ele traz-nos, por meio das palavras (bem dispostas na narrativa, aliás), sensações, desejos, sentimentos, que fazem com que nós, historiadores, enxerguemos de modo singular esse período da história humana, em que quase tornamo-nos impossibilitados de seguir parâmetros de análise rígidos. Ele é a prova concreta de que os seres humanos necessitam não apenas de alimentos para entenderem a si próprios como seres vivos, mas que têm anseio por algo mais profundo e inconsciente no pensamento humano: a necessidade de reconhecerem a si próprios como um ser essencialmente humano, isto é, dotado de humanidade. Pois, no momento em que isso é perdido, perde-se junto sua própria identidade.
Por fim, Mario Barenghi nos fornece reflexões tão sensatas sobre tal obra, que me impossibilita de não citá-las ao final desta resenha:

A experiência do Lager, isto é, a ruptura da continuidade da existência, o choque da supressão de qualquer limite entre humano e inumano — que é algo muito mais complexo do que a simples predominância de um termo em relação ao outro, ou do que a supressão de um dos dois —, contém uma contradição insolúvel. Em seu suplício, ela é inesquecível: pede e exige que seja recordada. Mas só se pode recordá-la como uma zona de irrealidade, como alguma coisa que escapa aos esquemas habituais de interpretação do mundo. Se de fato aquela experiência for assumida como plenamente real, não poderá ser verdadeiramente recordada como própria: ou porque impele o sujeito a alienar-se de si mesmo (tudo isso aconteceu, mas a uma pessoa diferente de mim), ou porque se impõe como realidade exclusiva, absoluta, que degrada ou cancela todas as outras, prejudicando a capacidade de distinguir entre o mundo concreto dos fenômenos e os fantasmas obsessivos da mente. Em suma, Erguer-se, “Wstawac”: se Auschwitz é real, nada pode ser real fora de Auschwitz.
(BARENGHI, 2005: pp. 189-190)

Bibliografia

BARENGHI, Mario. A Memória da Ofensa. Trad. Maurício Santana Dias. In: Novos Estudos 73, CEBRAP, novembro 2005, pp. 175-191.

LEVI, Primo. É isto um homem? Rio de Janeiro: Rocco, 1988.

MARCO, Valeria de. A literatura de testemunho e a violência de Estado. In: Lua Nova. Revista de Cultura e Política, CEDEC, 2004, nº. 62, pp. 45-68.

domingo, 25 de maio de 2008

Fichamento do Texto « HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, Capítulo 4-6, pp. 125-232. »

Capítulo 4, pp.125-161:
Hobsbawm, neste capítulo, aborda toda a discussão dividindo-a em quatro partes:

1- No século XIX, a sociedade burguesa enfrentara um momento singular, marcado pelo “problema” relacionado à ascensão do sistema político democrático. Nisso, percebe-se o dilema ao qual se inseria o liberalismo do século XIX: ao passo que incentivava a existência de instituições de caráter democrático, “esforçava-se por se desviar, sendo antidemocrático” (p. 126). Após 1870, o movimento de democratização das políticas estatais se tornou algo inevitável, e por isso, cada vez mais foi necessário a implantação de estratégias de manipulação/controle de suas estruturas. Tais “mecanismos” foram, pois, incapazes de deter o avanço do sistema democrático, mas eficientes no sentido de “contornar” as novas situações de participação social. Em meio a isso, formas de mobilização social se desenvolveram mediante a identificação com grupos religiosos (Igreja católica), e em relação a ideologias, como o nacionalismo.

2- Durante, principalmente, o final do século XIX, os governos europeus tiveram que conviver com o surgimento e ascensão de novos movimentos de massas; a predominância política da burguesia liberal, pois, viu-se declinar mediante a Grande Depressão e às novas perspectivas de mobilização social. As estratégias políticas tornavam-se, imediatamente, necessárias às novas realidades.

3- Em meio à tentativa de minimizar o “impacto” do ingresso das massas nas decisões políticas, as classes dominantes dispuseram de estratégias de “controle”. Dentre as estratégias: alinhamento e união de partidos “radicais” às reformas internas de caráter centralista, moderado; a implementação de políticas de bem-estar social, buscando minimizar os descontentamentos sociais; a propaganda de boas condições oriundas do imperialismo, assim como de um bom resultado pós-guerra; a criação e implementação de simbolismos/tradições, por intermédio da publicidade, como controle das massas.

4- As classes dominantes tiveram êxito em relação a mobilização das massas, integrando-as “ao sistema”. Movimentos como o socialista tornaram-se fracos ao “serem apanhados em sua teia”. Após a bem-sucedida integração política, os regimes tiveram de se defrontar com o desafio da ação direta, durante que antecederam à guerra, ameaçando, mais uma vez, a “estabilidade” do sistema. O otimismo em relação ao regime democrático (de acordo com sua compatibilidade com o capitalismo), esteve associado à crença na inevitabilidade histórica, incitando, pois, que o progresso universal ulterior não estaria mais em condições de ser concebido. A estabilidade da Belle Époque não mais era visto; o capitalismo deveria, conseqüentemente, se distanciar da democracia burguesa.


Capítulo 5, pp. 163-202:
Hobsbawm, neste capítulo, aborda as seguintes principais questões:

1- O proletariado, em meio às suas condições econômicas e sociais, ampliava tanto sua participação numérica e política, quanto sua identificação como classe social, adquirindo em si, consciência de classe, na medida em que, pois, o sistema industrial (principalmente europeu) expandia sua capacidade de produção. O proletariado tornou-se mais presente em grande parte das cidades (não apenas de caráter industrial) européias, cuja “utilidade” era estendida a diversos setores empregatícios; essa é uma característica fundamental do final do século XIX: aumento do proletariado. Neste sentido, de acordo com Hobsbawm,

“(...) não havia país industrializado, em fase de industrialização ou de urbanização, que pudesse deixar de tomar consciência dessas massas de trabalhadores (...), que tornavam uma proporção crescente de seus povos e, ao que parecia um aumento inevitável; dentro em pouco, provavelmente seriam uma maioria.” (p. 168)

O fato de os proletários passarem a organizarem-se de acordo com uma consciência de classe implicou em uma maior mobilização política, onde os sistemas democráticos permitissem, unindo-se em associações partidárias. A existência de partidos operários e socialistas tornou-se uma constante; o número de tais partidos cresceu significativamente e constantemente por toda a Europa.

2- O proletariado amalgamava em si um número muito grande e distinto de trabalhadores, que, em parte, detinham expectativas diferentes de luta. A heterogeneidade do proletariado está associada a uma dificuldade de se estabelecer uma consciência de classe unificada e, por isso, mais vulnerável às reações dos grupos dominantes. Contudo, mesmo com a presença de identificações alternativas de classes operárias, não era excluída a identidade de classe operária como tal; o que ocorria era apenas uma limitação, isto é, as identificações alternativas impediam que se formasse uma consciência política de classe proletária (uma identidade coesa entre as várias classes de trabalhadores). Mas percebe-se, em meio a isso, uma unificação; mas como?

3- Um mecanismo utilizado para se unificar era a ideologia – pregada, principalmente, pelos socialistas e anarquistas. O sindicalismo, neste sentido, funcionou como um meio útil de se organizar os trabalhadores sob estruturas abrangentes. O sistema democrático de participação política e eleitoral assegurou que a unificação dos operários em uma classe também fosse empreendida por intermédio do Estado: a criação e implementação de legislações trabalhistas se relaciona, pois, com uma caracterização nacional dos trabalhadores; isto é, impõe mesmas leis para diferentes categorias operárias, ajuda-se a criar uma consciência de classe proletária.

4- Uma característica destacada por Hobsbawm diz que a identificação apolítica de classe constituía uma consciência de pertencimento a diferentes grupos de operários. Por intermédio da criação de sindicatos, cooperativas e associações, formava-se a capacidade de “coincidência” das lutas políticas das categorias trabalhistas. Neste sentido, a manutenção de uma consciência de classe trabalhadora se sustinha na apenas na idéia de que o capitalismo não lhes garantia suas condições necessárias, mas também pelo fato de que a ação e a organização seriam os elementos decisivos para se alcançar a mudança.

5- Os partidos socialistas adquiriram certo status, na medida em que ganharam uma base de massa. Tais partidos, ao denunciarem as condições as quais se inseriam os operários, atraiam para si outras categorias de pessoas pobres que não necessariamente fossem proletários. Defendiam suas propostas mediante uma concepção “progressista”, associada à garantia de boas condições econômico-sociais futuras ao operariado.

Capítulo 6, pp. 203-232:
Hobsbawm, neste capítulo, aborda as seguintes principais questões:

1- A ascensão do nacionalismo foi um importante produto originário do processo de democratização do século XIX. Hobsbawm destaca três tendências do nacionalismo neste período: (1) o surgimento do nacionalismo e patriotismo, associado à direita política; (2) a autodeterminação nacional, onde tornava-se legítimo a reivindicação de caráter “nacional” por parte de grupos sociais, cuja finalidade era a de constituir um Estado soberano; (3) independência do Estado, concebida mediante a consideração de que a autodeterminação está ligada a uma questão de autonomia nacional; e (4) definição étnica de nação. O dado significativo, destacado por Hobsbawm, condiz com as diversas atribuições relacionadas à identificação do nacionalismo; as transformações de seu significado. A nação correspondia a uma forma de agregação dos cidadãos em torno da figura do Estado. Os Estados foram também importantes na consolidação de um patriotismo, uma concepção nacional, que se relaciona a uma ambivalência de identificação – enquanto unia uns habitantes, excluía outros, mediante a ideologia oficial.

2- O nacionalismo é responsável pelo desenvolvimento do ideal de xenofobismo, não apenas por parte dos cidadãos em si, mas também por parte dos trabalhadores nacionais em relação a estrangeiros (disputa por empregos). Isto também está relacionado à ascensão de uma concepção de neotradicionalismo – aversão a novas tendências de identidade cultural, oriunda dos contatos de novos indivíduos, estrangeiros. O avanço do nacionalismo, na medida em que esteve associado a estratos médios da sociedade, dispõe de três características: a mudança baseada em questões de língua; um reivindicação por Estados independentes; deslocamento para a direita e ultradireita na política.
Fichamento do texto « POLANYI, Karl. Capítulo 12. O nascimento do credo liberal. In: A Grande Transformação. Rio de Janeiro: Campus, 1980, pp. 141-154. »

Aspectos importantes abordados no texto:

1- O liberalismo econômico implantou-se expressivamente a partir de 1820, passando a representar três dogmas importantes: mercado de trabalho, capital em padrão-ouro, e livre-comércio.

2- Poor Law: era útil para os fabricantes, pois os isentava de arcar com as responsabilidades em relação ao desempregado; fundos de natureza pública passaram a assumir essa tarefa de auxílio aos desempregados. Também, os responsáveis pelas manufaturas viam algo a mais de positivo nas Poor Laws, uma vez que confiavam na idéia de que eram úteis na desmobilização de uma classe trabalhadora industrial.

3- O laissez-faire influiu enormemente em duas questões importantes: no meio circulante e no comércio. No meio circulante, tem-se implicações no sentido de aumento geral no custo de vida, duplicação de preços de bens de consumo, queda dos salários e do câmbio externo; isso tornava necessário a implantação urgente de um “padrão financeiro”. Em relação ao comércio, tem-se uma interligação mundial convergente ao mercado inglês, onde predominava uma crença na capacidade superior britânica.

4- O liberalismo econômico necessitava de um mercado auto-regulado a nível global, para que fosse assegurado seu perfeito funcionamento. Isso se concretizaria mediante a formação de conjunto de elementos, como comércio livre internacional, mercado competitivo, e o padrão-ouro.

5- Aspecto contraditório: a implantação “natural” do laissez-faire era algo incongruente; ele fora criado e instituído por meio do estado. O século XIX marca um momento de ampliação das atividades administrativas do estado, tornando-o um agente capaz de pôr em prática os ideais liberais. Os tributos das legislações restritivas, ampliados no século XIX, eram insatisfatórios mediante a “capacidade” do estado em empreender tais atitudes.

6- O mercado livre, durante a primeira metade do século XIX, definia-se a partir de um intervencionismo estatal cada vez mais “(...) contínuo, controlado e organizado de forma centralizada” (p. 145). Todos os suportes da interferência estatal giravam em torno de se organizar simples liberdades – a da terra, do trabalho e da administração a nível municipal.

7- O laissez-faire fora algo planejado, mas o intervencionismo oriundo dele, não. O anti-liberalismo, que se opôs ao mercado auto-regulável, revelou-se de forma espontânea, e de acordo com estratégias eminentemente pragmáticas. A mudança para um protecionismo (social e nacional) se relaciona a uma “conscientização” dos perigos de um sistema econômico de mercado fundamentado em um espírito anti-regulável; e não à aproximação a ideais nacionalistas e/ou socialistas.

8- O laissez-faire consistia na liberdade dos trabalhadores em se recusar a trabalhar, individual ou coletivamente, além de representar também, a liberdade que os empresários dispunham para ajustar os preços, a despeito das condições dos consumidores e do mercado. Por isso, em termos práticos, o laissez-faire se tornava incompatível com o perfeito funcionamento de um mercado auto-regulável; a saída, pois, encontrada pelos antiliberais foi a de impor as estratégias coletivistas de regulamentação e restrição.

9- Polanyi chama a atenção para o fato de que o laissez-faire não pode ser identificado com o liberalismo: o laissez-faire consiste uma completa não-intervenção; já o liberalismo econômico, pode sim ser empregado mediante mecanismos de intervenção/regulação.
Fichamento do texto « DE DECCA, Edgar. O colonialismo como a glória do império. In: REIS FILHO, Daniel A. et alli (Org.). O século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, pp. 151-181. »

Edgar de Decca divide o texto em quatro eixos principais de discussão:

1- A expansão capitalista
Busca por novos domínios coloniais foi algo predominantemente europeu. Tal busca concentrou-se, basicamente, em relação a fontes de matérias-primas e novos mercados consumidores que suprissem as necessidades de exportação de países europeus como Inglaterra e França, em meio à crescente produção industrial; dirigindo-se, majoritariamente, para regiões como o continente africano, Ásia, e para áreas territoriais banhadas pelo Pacífico. Decca chama a atenção para o uso do termo imperialismo, que seria errôneo, posto que implicaria a extensão de leis e instituições dos países colonizadores às regiões exploradas, dotando de igual direito os cidadãos metropolitanos e os nativos – o que de fato não ocorreu.

2- As fronteiras do capitalismo
As transformações pelas quais países como a Inglaterra passaram, se relacionam diretamente com o grau de competitividade da época, impulsionando tanto a busca por novas regiões a serem exploradas, quanto um conflito iminente entre as grandes potências econômicas emergentes na Europa. Esse ambiente de expansão econômica amplia as transformações dos centros metropolitanos europeus; a vida urbana passa por profundas alterações de comportamento, inseridas em um ambiente de expansão do sistema de venda e exposição de produtos. O sistema capitalista cada vez mais desenvolve seus potenciais de produção e consumo. Novos mecanismos como o marketing impulsionam tal desenvolvimento. O turismo surge, neste período, mediante os estímulos que agiam sobre consumo, a “venda de sonhos” estimulada pelo capitalismo. O capitalismo incentivava, cada vez mais, a destruição das fronteiras de dominação, introduzindo o sistema de capital às mais diversas regiões do mundo.

3- A aventura capitalista
Um novo homem surge ao final do século XIX: mais sujeito às mais variadas formas de desejos e prazeres postos à sua disposição mediante as oportunidades de satisfação estimuladas pela industrialização. Esse mesmo homem tornou-se mais passível de ser conhecido, “estudado”, por um novo campo do conhecimento empenhado a decifrar os segredos da consciência humana: a psicologia. A aventura imperialista incentivou uma extensa produção literária, à qual unem-se obras dedicadas à legitimação do domínio europeu, e também outras anunciantes de futuras transformações desse, até então, momento “agradável”. Como diz Decca,
“O mundo parecia não ter fronteiras e o homem moderno urbano europeu, que sonhava aventuras arrebatadoras, acreditava que a expansão não tinha limites. Esse homem, (...), tinha no romance de aventuras a possibilidade de sonhar com uma vida diferente da sua, limitada pelas necessidades e pela repetição monótona do cotidiano das grandes cidades.” (p. 168).
Decca explica também que o termo imperialismo deva designar determinados elementos da política e da cultura européias que fizeram despertar no homem moderno os desejos ilimitados de expansão. Isso significa que a administração das regiões exploradas seguia uma lógica, na maior parte das vezes, metropolitana, e não nativa.

4- O socialismo
Em meio ao crescente desenvolvimento do sistema capitalista, os trabalhadores permaneciam em más situações de sobrevivência e trabalho. Os trabalhadores passaram a unir-se a partidos e organizações existentes em grande parte da Europa; isto é, o avanço do capitalismo na Europa e pelo mundo fez dos trabalhadores uma força política significativa, incapaz de ser ignorada. Em relação a esse período, de acordo Decca, aparecem duas questões fundamentais em relação ao socialismo: 1ª) corresponde à disputa entre os partidários da revolução e os do reformismo; 2ª) refere-se à difusão do socialismo no mundo, e os reflexos disso diante do imperialismo. Em relação à primeira questão, essa falta de consenso provocou uma acirrada disputa política entre os partidários do marxismo; enquanto à segunda, a proporção da geografia imperialista (sem fronteiras) implicou na vulgarização da doutrina marxista, na medida em que o seu entendimento passou a ser determinado a partir de uma lógica teórica simplista.

5- A Belle Époque
Neste período de ampliação das oportunidades e satisfação de desejos, o cenário europeu passa a ser dominado por um ambiente de incertezas e dúvidas constantes. A maior parte dos avanços tecnológicos, descobertas e transformações, foram permitidas pela industrialização. Surgem nesse período, a psicanálise, a sociologia, variados tipos de credos (quiromancia, ocultismo, espiritismo, etc.), além de surgirem novos personagens na cena política, como a mulher. Mesmo com um ar de euforia, impulsionado pelo estímulo ao consumo e às satisfações garantidas pelo próprio avanço da tecnologia, tornava-se mais evidente a apreensão de um “mal-estar” da civilização. A Belle Époque, de acordo com Decca, marca o surgimento de novas sensações e estilos artísticos, interligados a esse pessimismo geral, quase que anunciador de um iminente horror que a sociedade européia viria a vivenciar, a Primeira Guerra.

sábado, 3 de maio de 2008

Fichamento do Texto « SAID, Edward W. Introdução. In: Orientalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, pp. 13-39 ».

Edward Said divide a Introdução em três eixos principais de discussão:

Parte I – Considerações gerais:

Said diz inicialmente que a existência do Oriente se relaciona diretamente com existência da Europa como idéia, imagem, personalidade. O Oriente, por sua vez, não representa apenas um dispositivo ideal, mas também está integrado de forma material na cultura européia.
Três designações são oferecidas ao termo orientalismo: a primeira, de cunho acadêmico, relaciona-se com tudo aquilo que esteja ligado ao Oriente, sendo o objeto de estudo do orientalista (antropólogo, historiador, sociólogo ou filólogo); a segunda, onde o orientalismo é concebido mediante uma distinção entre “Ocidente” e “Oriente”, a qual abrange um amplo campo interpretativo a ser explorado; e a terceira, cujo sentido está estritamente ligado ao final do século XVIII, corresponde às estratégias de dominação em relação ao Oriente, pelo mundo ocidental.
Falar de orientalismo diz respeito principalmente, embora não exclusivamente, a uma empresa colonial francesa e inglesa, que se relaciona com uma vasta produção, e intenso relacionamento, com o Oriente.

Parte II – As qualificações atribuídas ao Orientalismo:

Said diz que os discursos construídos pelos homens só adquirem inteligibilidade quando são aplicados a campos geográficos. As construções “Oriente” e “Ocidente”, de caráter geográfico-cultural, existem em função de uma lógica de entendimento recíproco. Isto é, a idéia Oriente só existe porque há um Ocidente, e vice-versa.
1- O Oriente, por não ser apenas um dispositivo do campo ideativo (isto é, uma idéia), mas também um corpus material, torna-se próximo a noção de orientalismo. O orientalismo (aquilo que é produzido sobre o oriente) não é tão “simples” de ser construído; afinal, o Leste abrange culturas diversas, e por isso, estudá-lo seria um ato de carreira profissional. A frase de Disraeli (“O Leste é uma carreira”), segundo Said, corresponde a uma consistência natural entre orientalismo e suas idéias sobre o Oriente.
2- A relação entre Ocidente e Oriente é marcadamente construída mediante relações de poder. O Oriente foi orientalizado também pelo fato de que deu essa permissão, ou pelo menos, foi incapaz de contê-la.
3- O orientalismo não corresponde apenas a um conceito teórico, uma “fantasia”, mas também a uma realidade viabilizada por meio de práticas cotidianas. Trata-se de um corpus teórico e prático fundamentado em “investimentos materiais” claramente observáveis.
4- A hegemonia cultural européia em relação ao oriente é construída mediante a existência de uma noção de superioridade, isto é, todos os povos e culturas não-europeus são inferiores à cultura européia. As estratégias do orientalismo, de acordo com Said, dependem de uma persistente vantagem ocidental. Há uma consciência européia soberana, de cuja centralidade surgiu um “mundo oriental”.


Parte III – Esboço dos aspectos que permitiram consolidar o trabalho:

1- Distinção entre conhecimento puro e conhecimento político.
Said deixa claro que seu trabalho é de caráter humanista, e não político. O orientalismo corresponde, para ele, a uma distribuição de consciência geopolítica, em meio a uma vasta produção intelectual. Ele tem muito mais a ver com Ocidente do que com o próprio Oriente. Também, a produção textual tem uma ligação estrita com a conjuntura da época de sua construção – noção de intertextualidade, que “define” “estilos” de produção. Por isso, o orientalismo está inserido dentro de um quadro de influência do imperialismo. O estudo do orientalismo, por isso, deve ser entendido dentro de um ambiente de produção intelectual, onde há o intercâmbio entre os autores individuais e os grandes interesses políticos lançados pela era dos impérios – “um tipo de obra humana induzida” (p. 27).

2- A questão metodológica.
Said se concentra em materiais de origem franco-britânica e americana. Said expõe dois dispositivos metodológicos utilizados no livro: localização estratégica – delimitar a posição do autor em relação ao tema estudado; e a formação estratégica – os meios de se analisar a relação e o conteúdo dos textos produzidos, e ainda, como buscar entendê-los. Said também diz que seu objetivo é o de analisar externamente o conteúdo do texto, pondo em evidência as representações ocidentais do Oriente, os símbolos utilizados para identificá-lo. Said destaca que, em meio a essa questão de exterioridade, é necessário também visualizar que as re-apresentações do Oriente é eminentemente uma questão de produção simbólica ocidental. Desse modo, o orientalismo é influenciado por idéias, e noções de cultura, oriundas das tendências dominantes (ocidentais).

3- A dimensão pessoal.
Said (oriental) buscar entender a si próprio como um indivíduo forjado pela influência orientalizante – “(...) uma tentativa de inventariar em mim o oriental (...)” (p. 37). As experiências próprias foram decisivas para a produção do livro.
Fichamento do texto « DE DECCA, Edgar. O colonialismo como a glória do império. In: REIS FILHO, Daniel A. et alli (Org.). O século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, pp. 151-181. »

Edgar de Decca divide o texto em quatro eixos principais de discussão:

1- A expansão capitalista
Busca por novos domínios coloniais foi algo predominantemente europeu. Tal busca concentrou-se, basicamente, em relação a fontes de matérias-primas e novos mercados consumidores que suprissem as necessidades de exportação de países europeus como Inglaterra e França, em meio à crescente produção industrial; dirigindo-se, majoritariamente, para regiões como o continente africano, Ásia, e para áreas territoriais banhadas pelo Pacífico. Decca chama a atenção para o uso do termo imperialismo, que seria errôneo, posto que implicaria a extensão de leis e instituições dos países colonizadores às regiões exploradas, dotando de igual direito os cidadãos metropolitanos e os nativos – o que de fato não ocorreu.

2- As fronteiras do capitalismo
As transformações pelas quais países como a Inglaterra passaram, se relacionam diretamente com o grau de competitividade da época, impulsionando tanto a busca por novas regiões a serem exploradas, quanto um conflito iminente entre as grandes potências econômicas emergentes na Europa. Esse ambiente de expansão econômica amplia as transformações dos centros metropolitanos europeus; a vida urbana passa por profundas alterações de comportamento, inseridas em um ambiente de expansão do sistema de venda e exposição de produtos. O sistema capitalista cada vez mais desenvolve seus potenciais de produção e consumo. Novos mecanismos como o marketing impulsionam tal desenvolvimento. O turismo surge, neste período, mediante os estímulos que agiam sobre consumo, a “venda de sonhos” estimulada pelo capitalismo. O capitalismo incentivava, cada vez mais, a destruição das fronteiras de dominação, introduzindo o sistema de capital às mais diversas regiões do mundo.

3- A aventura capitalista
Um novo homem surge ao final do século XIX: mais sujeito às mais variadas formas de desejos e prazeres postos à sua disposição mediante as oportunidades de satisfação estimuladas pela industrialização. Esse mesmo homem tornou-se mais passível de ser conhecido, “estudado”, por um novo campo do conhecimento empenhado a decifrar os segredos da consciência humana: a psicologia. A aventura imperialista incentivou uma extensa produção literária, à qual unem-se obras dedicadas à legitimação do domínio europeu, e também outras anunciantes de futuras transformações desse, até então, momento “agradável”. Como diz Decca,
“O mundo parecia não ter fronteiras e o homem moderno urbano europeu, que sonhava aventuras arrebatadoras, acreditava que a expansão não tinha limites. Esse homem, (...), tinha no romance de aventuras a possibilidade de sonhar com uma vida diferente da sua, limitada pelas necessidades e pela repetição monótona do cotidiano das grandes cidades.” (p. 168).
Decca explica também que o termo imperialismo deva designar determinados elementos da política e da cultura européias que fizeram despertar no homem moderno os desejos ilimitados de expansão. Isso significa que a administração das regiões exploradas seguia uma lógica, na maior parte das vezes, metropolitana, e não nativa.

4- O socialismo
Em meio ao crescente desenvolvimento do sistema capitalista, os trabalhadores permaneciam em más situações de sobrevivência e trabalho. Os trabalhadores passaram a unir-se a partidos e organizações existentes em grande parte da Europa; isto é, o avanço do capitalismo na Europa e pelo mundo fez dos trabalhadores uma força política significativa, incapaz de ser ignorada. Em relação a esse período, de acordo Decca, aparecem duas questões fundamentais em relação ao socialismo: 1ª) corresponde à disputa entre os partidários da revolução e os do reformismo; 2ª) refere-se à difusão do socialismo no mundo, e os reflexos disso diante do imperialismo. Em relação à primeira questão, essa falta de consenso provocou uma acirrada disputa política entre os partidários do marxismo; enquanto à segunda, a proporção da geografia imperialista (sem fronteiras) implicou na vulgarização da doutrina marxista, na medida em que o seu entendimento passou a ser determinado a partir de uma lógica teórica simplista.

5- A Belle Époque
Neste período de ampliação das oportunidades e satisfação de desejos, o cenário europeu passa a ser dominado por um ambiente de incertezas e dúvidas constantes. A maior parte dos avanços tecnológicos, descobertas e transformações, foram permitidas pela industrialização. Surgem nesse período, a psicanálise, a sociologia, variados tipos de credos (quiromancia, ocultismo, espiritismo, etc.), além de surgirem novos personagens na cena política, como a mulher. Mesmo com um ar de euforia, impulsionado pelo estímulo ao consumo e às satisfações garantidas pelo próprio avanço da tecnologia, tornava-se mais evidente a apreensão de um “mal-estar” da civilização. A Belle Époque, de acordo com Decca, marca o surgimento de novas sensações e estilos artísticos, interligados a esse pessimismo geral, quase que anunciador de um iminente horror que a sociedade européia viria a vivenciar, a Primeira Guerra.

domingo, 6 de abril de 2008

Fichamento do Texto 04:
HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. Capítulos 1 e 2.

Foco Cronológico e Temático:
1- final do século XIX e início do XX;
2- focaliza os processos de transformação nos campos da tecnologia, economia, e relações políticas internacionais identificadas com o Imperialismo;

Objetivos do Texto:
1- identificar os principais aspectos de mudança no final do século XIX, bem como suas implicações;

Teses trabalhadas e defendidas:
1- tecnologia: elemento relacionado com as defasagens econômicas;
2- Europa: “cerne” do desenvolvimento capitalista;
3- dicotomia: separação (países ricos e defasados) e união (interdependência econômica); local de progresso e local de defasagem;
4- século XIX – o século europeu;
5- ambiente de crise inerente ao processo de expansão;
6- alternativa à crise: protecionismo;
7- processo de controle do mercado e eliminação da concorrência;
8- advento da racionalização do processo produtivo – Taylorismo;
9- características do período econômico dado;

Teoria:
1- os avanços tecnológicos eram os principais responsáveis pelas transformações econômicas, verificadas a nível mundial, assim como também pela forte interligação entre os países “ricos” e os países “pobres;
2- o ambiente em que se desenvolveram os mais significativos avanços do sistema capitalista se deu na Europa;
3- apesar de haver uma distinção entre países ricos e pobres, essa separação não se verificava em nível das relações econômicas, posto que a interligação entre essas economias era um ocorrência muito presente;
4- pelo fato de que as principais transformações desse período tenham ocorrido na Europa, e também pela “exportação de cultura”, ele é denominado o “século europeu”;
5- o processo de expansão econômica ampliou “(...) enormemente tanto o produto possível como o necessário (...)”, sendo responsável pelo ambiente de depressão dos preços, dos lucros, e de taxas de juros;
6- a adoção do protecionismo como via de “solução” ao período de depressão; esse protecionismo incidia, principalmente, no comércio de mercadorias, não afetando os movimentos de mão-de-obra, nem as transações financeiras;
7- o Taylorismo surge como alternativa à pressão sobre os lucros oriunda da Grande Depressão; disso, criou-se a necessidade de controle da produção e à maximização dos lucros;
8- características da economia da Era dos Impérios: I) ampla base geográfica onde se desenvolveu as relações econômicas; II) caráter plural da economia mundial – “protecionismo”; III) revolução tecnológica – “atualização” da primeira revolução industrial; IV) alteração da estrutura e modos produtivos – “racionalização”; V) mudança do mercado de bens de consumo – mudança quantitativa e qualitativa; VI) crescimento acentuado do setor de serviços; VII) tendência a uma maior interação entre plítica e economia – ampliação do papel dos governos e do setor público em si (a “mão” tornava-se cada vez mais “visível”);