sábado, 3 de maio de 2008

Fichamento do Texto « SAID, Edward W. Introdução. In: Orientalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, pp. 13-39 ».

Edward Said divide a Introdução em três eixos principais de discussão:

Parte I – Considerações gerais:

Said diz inicialmente que a existência do Oriente se relaciona diretamente com existência da Europa como idéia, imagem, personalidade. O Oriente, por sua vez, não representa apenas um dispositivo ideal, mas também está integrado de forma material na cultura européia.
Três designações são oferecidas ao termo orientalismo: a primeira, de cunho acadêmico, relaciona-se com tudo aquilo que esteja ligado ao Oriente, sendo o objeto de estudo do orientalista (antropólogo, historiador, sociólogo ou filólogo); a segunda, onde o orientalismo é concebido mediante uma distinção entre “Ocidente” e “Oriente”, a qual abrange um amplo campo interpretativo a ser explorado; e a terceira, cujo sentido está estritamente ligado ao final do século XVIII, corresponde às estratégias de dominação em relação ao Oriente, pelo mundo ocidental.
Falar de orientalismo diz respeito principalmente, embora não exclusivamente, a uma empresa colonial francesa e inglesa, que se relaciona com uma vasta produção, e intenso relacionamento, com o Oriente.

Parte II – As qualificações atribuídas ao Orientalismo:

Said diz que os discursos construídos pelos homens só adquirem inteligibilidade quando são aplicados a campos geográficos. As construções “Oriente” e “Ocidente”, de caráter geográfico-cultural, existem em função de uma lógica de entendimento recíproco. Isto é, a idéia Oriente só existe porque há um Ocidente, e vice-versa.
1- O Oriente, por não ser apenas um dispositivo do campo ideativo (isto é, uma idéia), mas também um corpus material, torna-se próximo a noção de orientalismo. O orientalismo (aquilo que é produzido sobre o oriente) não é tão “simples” de ser construído; afinal, o Leste abrange culturas diversas, e por isso, estudá-lo seria um ato de carreira profissional. A frase de Disraeli (“O Leste é uma carreira”), segundo Said, corresponde a uma consistência natural entre orientalismo e suas idéias sobre o Oriente.
2- A relação entre Ocidente e Oriente é marcadamente construída mediante relações de poder. O Oriente foi orientalizado também pelo fato de que deu essa permissão, ou pelo menos, foi incapaz de contê-la.
3- O orientalismo não corresponde apenas a um conceito teórico, uma “fantasia”, mas também a uma realidade viabilizada por meio de práticas cotidianas. Trata-se de um corpus teórico e prático fundamentado em “investimentos materiais” claramente observáveis.
4- A hegemonia cultural européia em relação ao oriente é construída mediante a existência de uma noção de superioridade, isto é, todos os povos e culturas não-europeus são inferiores à cultura européia. As estratégias do orientalismo, de acordo com Said, dependem de uma persistente vantagem ocidental. Há uma consciência européia soberana, de cuja centralidade surgiu um “mundo oriental”.


Parte III – Esboço dos aspectos que permitiram consolidar o trabalho:

1- Distinção entre conhecimento puro e conhecimento político.
Said deixa claro que seu trabalho é de caráter humanista, e não político. O orientalismo corresponde, para ele, a uma distribuição de consciência geopolítica, em meio a uma vasta produção intelectual. Ele tem muito mais a ver com Ocidente do que com o próprio Oriente. Também, a produção textual tem uma ligação estrita com a conjuntura da época de sua construção – noção de intertextualidade, que “define” “estilos” de produção. Por isso, o orientalismo está inserido dentro de um quadro de influência do imperialismo. O estudo do orientalismo, por isso, deve ser entendido dentro de um ambiente de produção intelectual, onde há o intercâmbio entre os autores individuais e os grandes interesses políticos lançados pela era dos impérios – “um tipo de obra humana induzida” (p. 27).

2- A questão metodológica.
Said se concentra em materiais de origem franco-britânica e americana. Said expõe dois dispositivos metodológicos utilizados no livro: localização estratégica – delimitar a posição do autor em relação ao tema estudado; e a formação estratégica – os meios de se analisar a relação e o conteúdo dos textos produzidos, e ainda, como buscar entendê-los. Said também diz que seu objetivo é o de analisar externamente o conteúdo do texto, pondo em evidência as representações ocidentais do Oriente, os símbolos utilizados para identificá-lo. Said destaca que, em meio a essa questão de exterioridade, é necessário também visualizar que as re-apresentações do Oriente é eminentemente uma questão de produção simbólica ocidental. Desse modo, o orientalismo é influenciado por idéias, e noções de cultura, oriundas das tendências dominantes (ocidentais).

3- A dimensão pessoal.
Said (oriental) buscar entender a si próprio como um indivíduo forjado pela influência orientalizante – “(...) uma tentativa de inventariar em mim o oriental (...)” (p. 37). As experiências próprias foram decisivas para a produção do livro.

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